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Alfabetização: 6 práticas essenciais

Conheça as ações para fazer toda a turma avançar, as características das atividades desafiadoras em cada um dos seis tópicos e os equívocos comuns

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Por: Anderson Moço

1 Identificar o que cada criança da turma já sabe

O que é Avaliar o nível de alfabetização e as intervenções mais adequadas para cada aluno. Antes mesmo de entrar na escola, as crianças já estão cercadas por textos, mas o contato com eles depende dos hábitos de cada família. Assim, uma turma de 1º ano vai apresentar uma variedade enorme de saberes, com estudantes pré-silábicos (quando as letras usadas na escrita não têm relação com a fala), silábicos sem valor sonoro (representando cada sílaba com uma letra aleatória), com valor sonoro (usando uma das letras da sílaba para representá-la), silábico-alfabéticos (que alternam a representação silábica com uma ou mais letras da sílaba) e, finalmente, alfabéticos (que escrevem convencionalmente, apesar de eventuais erros ortográficos).
Ações A atividade de diagnóstico mais comum é o ditado de uma lista de palavras dentro de um mesmo campo semântico (por exemplo, uma lista de frutas) com quantidade diferente de sílabas. Com base nela, é possível elaborar um mapa dos saberes da turma e planejar ações (leia o depoimento abaixo). Também vale usar os resultados das sondagens periódicas para informar os pais sobre os avanços de seus filhos.

 

Mapa dos saberes é a base para formar grupos

“Quando comecei a alfabetizar, não utilizava os resultados dos diagnósticos em sala de aula. Hoje, o mapa da classe funciona como um subsídio obrigatório para a organização de grupos de alunos com saberes próximos. Uma criança pré-silábica precisa de uma ajuda muito diferente de uma alfabética, por exemplo. Além disso, o diagnóstico me ajuda a planejar atividades diferenciadas. Ao mesmo tempo em que trabalho textos de memória com os que estão em hipóteses menos avançadas, promovo a leitura com os que já sabem ler.”
Elienai Sampaio Gonçalves de Brito é professora do 1º ano da EM Barboza Romeu, em Salvador, BA.

Os erros mais comuns

– Não usar as informações da sondagem no planejamento. Os dados do diagnóstico devem orientar as atividades, os agrupamentos e as intervenções.
– Não planejar atividades diferentes para alunos alfabéticos e não alfabéticos. Os que já dominam o sistema de escrita precisam continuar aprendendo novos conteúdos, como ortografia e pontuação.

2 Realizar atividades com foco no sistema de escrita

O que é Criar momentos para que os alunos sejam convidados a pensar sobre as relações grafofônicas e as peculiaridades da língua escrita. A intenção é fazer com que eles investiguem quais letras, quantas e onde usá-las para escrever. Alguns exemplos de perguntas para a turma: a palavra que você procura começa com que letra? Termina com qual? Quantas letras você acha que ela tem? É por meio de reflexões desse tipo que as crianças entendem a ligação entre os sons e as possíveis grafias. Algo muito distinto do que se fazia até pouco tempo atrás, quando vigorava a ideia de memorização. Os alunos primeiro repetiam inúmeras vezes as sílabas já formadas (ba, be, bi, bo, bu) e depois tentavam formar palavras e frases utilizando as sílabas que já haviam aprendido (“O burro corria para o correio”, “Ivo viu a uva” e outras sem sentido algum). Só depois de guardar todas as possibilidades, a criança começava a escrever pequenos textos. O pior era que, em muitos casos, o momento da produção nunca chegava.
Ações Desafiar os alunos a ler e a escrever, por conta própria, textos de complexidade adequada ao seu estágio de alfabetização (leia o depoimento abaixo). No esforço de entender como funciona o sistema alfabético, as crianças vão inicialmente tentar ler com base no que conhecem sobre a escrita e onde ela aparece (cartazes, livros, jornais etc.), utilizando o contexto para identificar palavras ou partes delas. As questões que o professor faz para que a criança justifique o que está escrito e os conflitos cognitivos decorrentes dessas indagações e da interação com os colegas levam à revisão de suas hipóteses.

 

Listas para desafiar a turma a escrever

“Tenho clareza de que as crianças refletem sobre o sistema de escrita quando são desafiadas a ler e a escrever. Meu foco são os que ainda não estão alfabéticos. Para eles, preparo listas (de frutas, dos nomes da chamada etc.) e textos de memória (músicas, adivinhas etc.). Procuro ainda respeitar o tempo de evolução de cada aluno. Não dá para forçar que ele mude de hipótese só mostrando o que está errado. Esse é um processo cognitivo que depende de cada um.”
Angela Viera dos Santos é professora do 2º ano da EE Josefina Maria Barbosa, em São Paulo, SP.

Os erros mais comuns

– Deixar o aluno escrever sem intervir nem fornecer informações. A criança só avança ao receber ajudas desse tipo do professor.
– Pedir que os alunos copiem textos. Esse exercício mecânico pode, no máximo, ajudar a memorizar.
– Não desafiar os alunos a ler. Procurar nomes em listas, por exemplo, é essencial para entender a lógica do sistema de escrita.

3Realizar atividades com foco nas práticas de linguagem

O que é Ajudar as crianças a entender como os textos se organizam e os aspectos específicos da linguagem escrita. Mais que enumerar as características dos diferentes gêneros, o importante é levar a turma a perceber as características sociocomunicativas de cada um deles, mostrando que aspectos como o estilo e o formato do material dependem da intenção do texto (por que se escreve) e de seu destinatário (para quem se escreve). “Isso se faz com a produção e a reflexão sobre bons exemplos”, diz Neurilene Martins, coordenadora do Instituto Chapada, em Salvador.
Ações As atividades mais consagradas são a leitura em voz alta e a produção de texto com o professor como escriba. Nas situações de leitura, o docente atua como um modelo de leitor: ele questiona as intenções do autor ao escolher expressões e palavras, retoma passagens importantes e ajuda na construção do sentido. Já nas ações de produção de texto oral com destino escrito (leia o depoimento abaixo), ao propor que os estudantes ditem um texto, ele discute a estrutura daquele gênero, escreve e revisa coletivamente, sugerindo alterações para tornar a composição mais interessante.

 

Produzir textos antes mesmo de saber escrever convencionalmente

“Em minha turma, todo dia leio uma história de literatura infantil. Dessa forma, as crianças entram em contato com a linguagem que se escreve – que, em vários casos, tem marcas distintas da oral. Também atuo constantemente como escriba. Quando vou escrever um cartaz, por exemplo, peço para os alunos me ajudarem com as ideias e que pensem na melhor maneira de comunicar o que queremos. É utilizando a língua escrita em contextos reais de comunicação que as crianças aprendem a ler e escrever de forma autônoma”.
Luciana Kornatzki é professora do 1º ano da Escola Desdobrada Jurerê, em Florianópolis, SC.

Erros mais comuns
– Ler para a turma sem destacar as características da linguagem. Depois de uma primeira leitura completa, é fundamental mostrar as expressões que ajudam a construir a forma e o significado dos textos.
– Explorar apenas as características de cada gênero sem produzi-lo. Conhecer a estrutura não garante as condições para a produção. Aprende-se a ler lendo e a escrever escrevendo.

4 Utilizar projetos didáticos para alfabetizar

Contemplar, na rotina da classe, um processo planejado com a participação dos alunos que resulte em um produto final escrito (uma carta, um livro, um seminário etc.). Esse tipo de organização do trabalho preserva a intenção comunicativa dos textos (informar, entreter etc.), respeitando o destinatário real da produção. Com isso, fornece um sentido maior para as atividades a ser realizadas pelos alunos, já que eles sabem que o resultado final será lido por outras pessoas, além da professora. Nos projetos didáticos, as crianças enfrentam situações e desafios reais de produção. “Com isso, aprendem usos e funções da escrita enquanto aprendem a escrever”, explica Cristiane Pelisssari. Uma das principais vantagens do trabalho com projetos didáticos é a possibilidade de articulação entre momentos de reflexão sobre o sistema alfabético e sobre as práticas de linguagem. Outro ponto positivo é a criação de um contexto para a leitura e a escrita: por estarem debruçados sobre determinado assunto, os alunos conseguem ativar um repertório de conhecimentos sobre o tema que estão pesquisando para antecipar o que ler e saber o que escrever (leia o depoimento abaixo).

Ações Geralmente, os projetos estão relacionados à pesquisa de temas de interesse da criançada. Os alunos são convidados a buscar informações, relacionar conhecimentos, realizar registros, produzir textos e revisá-los. Uma das vantagens dos projetos é que eles proporcionam uma organização flexível do tempo: de acordo com o objetivo que se pretende atingir, um projeto pode ocupar somente alguns dias ou se desenvolver ao longo de vários meses.

 

Escrever para ser lido e compreendido

“Nos projetos didáticos, as crianças têm mais facilidade para tentar ler e escrever autonomamente porque conhecem o tema em que estão trabalhando. Outro destaque é a possibilidade de aliar a discussão do sistema e das práticas de linguagem. Num projeto sobre lixo, por exemplo, escrevemos listas de objetos recicláveis e mergulhamos na análise de bons modelos de panfletos informativos para criar coletivamente nossas próprias versões.”
Ana Karina Zambaldi é professora do 1º ano da EMEB Professor Nelson Neves de Souza, Mogi-Mirim, SP.

Erros mais comuns

– Focar o trabalho excessivamente no produto final. Os alunos aprendem muito mais com todo o processo do que com a chamada culminância.
– Não aproveitar os projetos para refletir sobre o sistema alfabético. Os alunos devem realizar registros e ter atividades de leitura em diversas etapas, articulando o sistema de escrita com as práticas de linguagem.

5Trabalhar com sequências didáticas

O que é  Lançar mão de série de atividades focadas num conteúdo específico, em que uma etapa está ligada à outra. Na alfabetização, as sequências podem ser usadas para focar aspectos tanto da leitura como do sistema de escrita.
Ações Na leitura, uma opção é ler com as crianças diferentes exemplares de um mesmo gênero, variadas obras de um mesmo autor, textos sobre um mesmo tema ou versões de uma mesma história (leia o depoimento abaixo). A sequência deve estar ligada aos propósitos leitores que se quer aprofundar. Se a ideia é ler para saber mais, a sequência deve contemplar as diversas etapas de pesquisa, da localização ao registro de informações. Se o objetivo é a leitura para entreter, a turma pode avaliar os recursos linguísticos utilizados para provocar suspense, comicidade etc. e criar um arquivo de expressões úteis para as próprias produções. Uma sequência semelhante pode ser preparada para apresentar desafios relacionados ao sistema de escrita. Numa lista de livros de bruxa, por exemplo, a garotada pode ser convidada a criar um título que tenha palavras específicas (como “a bruxinha malvada”).

 

Ler várias versões para conhecer recursos de linguagem

“Uma das minhas sequências preferidas é a leitura de várias versões de um mesmo conto. Cada aluno se identifica mais com uma versão. Debatemos as diferenças entre as versões e nos focamos na linguagem. Às vezes, leio um livro cuja história começa com ‘viveram felizes para sempre’. De cara, a reação dos estudantes é de estranheza, mas contribuo para que eles entendam que existem muitas formas de contar uma história, que a escolha das palavras e da ordem do texto muda muito a própria história e o sentido que ela traz.”
Valdeci Gomes Oliveira da Silva, 48 anos, professora do 2º ano da EE Benedito Gomes, em Santo André, SP

Erros mais comuns

– Prever atividades sem ligação ou continuidade. Uma atividade deve preparar para a outra. Pode-se, por exemplo, começar lendo uma versão tradicional de Chapeuzinho Vermelho e terminar com uma carta do Lobo a Chapeuzinho.
– Não ter clareza dos objetivos da sequência didática. É fundamental ter em mente o que se quer ensinar e o que deve ser avaliado.

6Incluir atividades permanentes na rotina

O que é Prever atividades diárias para colocar os alunos em contato constante com determinados conteúdos importantes para conseguir ler e escrever de forma convencional. “No caso da escrita, o domínio do sistema alfabético requer sucessivas aproximações e tentativas de escrever adequadamente”, afirma Neurilene Martins. Outro foco é a aprendizagem de procedimentos e comportamentos leitores e escritores: por onde e como começo a ler? Como tomar pequenas notas na hora de pesquisa? Como expressar preferências literárias e trocar informações sobre os livros?
Ações Em termos de escrita, destaque para listas, textos de memória (como parlendas e poemas) e atividades com o nome próprio e os dos colegas de classe e com a troca de recomendações literárias. Quando se trata de ler, a possibilidade mais consagrada é a leitura diária feita pelo professor em voz alta de textos variados (leia o depoimento abaixo).

 

Desafios diários de leitura e escrita

“Meus alunos já sabem que todo dia vamos ler um texto diferente. Em alguns dias, são contos e, em outros, lendas ou textos informativos. Aproveito que eles conhecem muitas histórias para colocar os títulos preferidos no quadro e desafiar a turma a ler o que está escrito. Além disso, todo dia as crianças escrevem textos variados: listas, cruzadinhas, bilhetes… É uma forma de ajudá-las a se aproximar, ao mesmo tempo, das características do sistema e da linguagem.”
Elaine Barli Bacilli é professora do 1º ano da EM Rui Barbosa, em Umuarama, PR.

Erros mais comuns

– Não propor atividades com foco no sistema de escrita. É fundamental incluir atividades permanentes que levem a pensar sobre as relações grafofônicas.
– Insistir na leitura de um único gênero textual. As crianças precisam ter contato e familiaridade com uma variedade grande de textos para que consigam se comunicar por escrito em diferentes situações.

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Marisol Gelamos Ruiz Morales (Emefei Profº Sérgio Augusto Mainini)

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